“Tudo foi feito por meio da Palavra, e sem ela nada se fez de tudo o que foi feito”, diz-nos o evangelista São João o qual acabamos de ouvir. De que palavra fala São João no prólogo do seu Evangelho? Não é de qualquer palavra que nós dizemos sem pensar, certamente. Eis aí o convite da liturgia de hoje: o conhecimento pleno da Palavra eterna de Deus que é Jesus Cristo, feito homem, nas feições de um pobre menino.
Conta-nos o Gênesis que, no princípio de tudo, o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Foi nesse tempo, antes de todos os tempos, que Deus criou o céu e a terra. As primeiras ações que o Autor Sagrado vai narrar são criar e pairar, ou melhor, fazer do nada e permanecer sendo aquilo que é. Mas a ação de Deus de criar só tem sentido, quando diz: “Faça-se a luz!” A Palavra que sai da boca de Deus é criadora e transformadora assim como a luz que, colocada em meio a escuridão, cria espaços acolhedores, transformando o que antes era triste em alegre.
Mas o que tem isso a ver com a festa que celebramos? São João narra o episódio da Encarnação de Jesus de maneira singular. Ele diz, teológico e poeticamente, que Deus, ou melhor, que o Filho de Deus, que é Deus com o Pai e com o Espírito Santo, da mesma substância, existente antes de todas as coisas, que é Palavra eterna, fez-se carne, transformando-se em luz para a vida de todo homem. Melhor ainda! Jesus, ao nascer de Maria Santíssima, dá novo alento aos homens que vivem nas trevas da mentira, da tristeza e das desilusões.
E diz ainda a Carta aos Hebreus: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus aos nossos pais, pelos profetas”. E quantas vezes a mensagem de Deus é endereçada a nós, mas fazemos pouco caso? Quantas vezes nossa consciência nos diz que estamos errados, mas nós por orgulho ou vaidade simplesmente ignoramos? Muitas vezes e de muitos modos o Menino de Belém fala-nos a nós. Muitas vezes e de muitos modos o Recém-nascido envolto em panos pobres nos envia para falar da sua mensagem e do seu amor a todos os que ainda não o experimentaram e nós fazemos pouco caso.
Fazemos pouco caso como aqueles donos de hospedaria que, batendo a porta na cara de Jesus, fizeram-no deitar em um lugar sujo e pobre. Mas o Menino Deus quer que sejamos como os pastores – homens humildes, provavelmente sem muita instrução – que, tendo ouvido falar do Menino que nasceu, ficam maravilhados e fazem ecoar a Palavra que viram e ouviram. Os magos do Oriente também! Eles vão de longe até o presépio em Belém. Homens ricos vão adorar o Menino e, vendo e ouvindo as suas maravilhas, fazem-se luz na vida dos que não puderam vê-la e ouvi-la.
Eu agora quero fazer minhas as palavras do Profeta Isaías: “Como são belos os pés dos que anunciam e pregam a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação!” Como são belos os pés sujos de poeira daqueles pastores que deixam tudo para adorar Jesus! Como são belos os pés sujos de poeira daqueles ricos e sábios homens que de longe rumam até Belém para adorar Jesus! E nós, deixamos de lado as nossas vontades, os nossos luxos, as nossas vaidades e os nossos orgulhos para aderir completamente à vontade de Deus, que quer ser luz na minha vida para que eu seja luz na vida dos outros?
Como são belos os pés do Recém-nascido deitado no lugar onde os animais comiam! Mais belos ainda devem ser os nossos pés, quando no cotidiano da nossa vida, nossas bocas se abrirem para criar um ambiente de paz, de amor e de fraternidade, transformando as trevas da competição e do ser melhor que os outros por meio da Palavra de Jesus, que é Príncipe da paz, que é amor, que – fazendo-se homem – é nosso verdadeiro irmão e que é verdadeira luz a iluminar os passos da nossa vida.
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